21 de agosto de 2011

Incertezas, polêmicas e desconforto, GDF muda as regras do Festival de Cinema de Brasília

Cine Brasília: o palco do festival está em reformas, segundo a Secretaria de Cultura

As mudanças radicais na 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, mostra de cinema mais tradicional do país, ainda provocam incertezas e polêmicas entre cineastas, produtores e  imprensa nacional. Quando se discute as expectativas para o evento, que será realizado entre 26 de setembro e 3 de outubro, o que ainda se vê é um filme desfocado: não existe consenso sobre as medidas tomadas pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal — que, entre outras providências, derrubou a exigência de ineditismo para longas-metragens concorrentes ao Candango.

A abertura da competição para filmes que já foram exibidos em outros festivais brasileiros toma o centro das controvérsias. Entre os seis longas selecionados para Brasília, três já concorreram a outros prêmios no país: Trabalhar cansa e Meu país passaram no Paulínia Festival de Cinema (SP) deste ano. Já As hipermulheres disputou em Gramado (RS), onde venceu prêmio especial de júri e levou troféu por montagem. Há quem acredite que a sensação de déjà- vu pode enfraquecer nacionalmente o prestígio do festival brasiliense.

“Entendo, pessoalmente, que festivais da importância de Brasília e de Gramado deveriam manter a função de lançadores de filmes”, observa Luiz Zanin, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). “Tenho falado com vários colegas (da imprensa), e noto um desinteresse em cobrir o festival este ano. A estratégia de Brasília periga reduzir o interesse nacional pelo festival. É um grande risco, que pode ser fatal a longo prazo”, afirma. Críticos observam que o critério do ineditismo é adotado por grandes festivais internacionais,  Cannes e Veneza, também como uma forma de atrair a atenção da mídia. Trabalhar cansa, aliás, deve estrear nos cinemas de São Paulo e do Rio durante o período do festival.

O cineasta Murilo Salles, que venceu prêmios em Brasília e Gramado com Nunca fomos tão felizes (1984), numa época em que o critério de privilegiar filmes inéditos não era levado em conta no Brasil, concorda que as alterações na estrutura da mostra podem trazer consequências negativas. “Certamente, o Festival de Brasília perde. É óbvio e é uma pena”, afirma. “Acho que a questão da qualidade de filmes poderia ser resolvida se houvesse um cachê para todos os longas selecionados, como um pagamento por aluguel de cópia. Isso atrairia os produtores, que são, em geral, muito maltratados pelos festivais”, sugere.

Boas novas:

Transformações não menos importantes no perfil do evento foram recebidas sem tantas discordâncias. São raras as discussões sobre a antecipação da data do festival (que ocorria em novembro), a inclusão do digital nas mostras principais e o aumento do prêmio para melhor longa (de R$ 80 mil para R$ 250 mil). As inovações, na opinião de quem defende ou rejeita o ineditismo, devem fortalecer o apelo do evento. “A adequação da data, para antes do Festival do Rio e logo depois de Gramado, é perfeita. Aumentam as opções de filmes para Brasília”, diz Murilo Salles.

Zanin, da Abraccine, está de acordo com o cineasta. “Acho que antecipação da data pode ser até positivo para as edições vindouras. Brasília ficava no fim do ano e ficava refém de filmes inscritos em vários festivais”, afirma. A era digital, por sinal, promete chegar com imponência: serão quatro longas no formato, contra três em película. Mas, se as melhorias tecnológicas eram cobrança antiga, o suspense diz respeito ao impacto dessas e de outras novidades na recepção do festival. “Gramado cresceu muito este ano, Paulínia também. Brasília tem de se manter. É um momento que exige calma e discussão”, comenta Procópio. Um desfecho, portanto, ainda em aberto.


Na competição:
» As hipermulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, RJ/PE**
» Hoje, de Tata Amaral, SP
» Meu país, de André Ristum, SP*
» O homem que não dormia, de Edgard Navarro, BA
» Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra, SP*
» Vou rifar meu coração, de Ana Rieper, RJ

* Exibido em Paulínia
** Exibido em Gramado


Por: CorreioBraziliense /// TigoRodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário